10 de dezembro de 2005

Janeiro de 2005

janeiro 24, 2005

ASSEMBLEIA GERAL "COMENSAL" DO NÚCLEO DE VETERANOS DA UNIÃO
Sábado, 29 de Janeiro, 2005 ( à noite) Em casa de António Simões e Dª. Iolanda
Mais uma vez, mas com Ordem de Trabalhos sempre renovada, vai reunir a Assembleia Geral "Comensal" do Núcleo de Veteranos da União Desportiva e Tuna Vilafranquense, UDV.
Oportunidade para definir os principais eventos da época "futebolístico-gastronómico-cultural" do Núcleo de Veteranos e para o primeiro convívio gastronómico da temporada 2005.
Mais uma vez, vai fazer-se em casa do António Simões e de Dª. Iolanda. É aqui de referir que este casal de anfitriões acaba de ser enriquecido com uma netinha, precioso rebento da filha Carla e do genro Paulo. Ainda não se sabe agora, se a Matilde - assim se chama a neta com menos de dois meses de idade - já vai ou não participar no convívio de dia 29 de Janeiro

Jano

CEPO DO NATAL + ANO NOVO + REIS 2004/2005 CEPO de Natal + Ano Novo + Reis

Mais uma tradição revisitada…No início foram os cepos, propriamente ditos…
A acção iniciou-se um ou dois dias antes de Dia de Natal. Então, foi-se por uns cepos (de pinheiros), propriamente ditos, às matas onde era sabido eles estarem arrancados. Com velhas raízes à mostra, descarnados da terra que durante anos, arduamente, segurou e amamentou, primeiro, as plantas frágeis, depois, grossos pinheiros. Até que um dia ( ano passado) a moto-serra os veio ceifar para lenha ou paletes, agora é difícil de precisar. Isto aconteceu provavelmente quatro ou cinco décadas depois daqueles pinhões generosos ali se terem entregue no aconchego húmido da terra-mãe… Pois, agora, o tractor cortou de vez qualquer ligação desesperada que ainda tivessem à terra, e carregou os Cepos para o Largo da Capela. Botou-se-lhes o fogo. As chamas abriram caminhos rapidamente. Crepitaram a magra “crocódua” e as fibras secas, feitas archotes. Reuniu-se o Povo, à volta. Crepitaram conversas. Puseram-se em dia muitas “novidades”. Depressa se consumiram os primeiros cepos do Cepo de Natal.



À noite, o vento cortava e o frio era de rachar…
O tempo ia frio e muito seco. O Sol luzia sem obstáculos mas pouco aquecia. A noite descia rápida e envolvia a Povoação, as casas e as almas, numa abóbada cristalizada, apesar de muito escura. Quase sentíamos que se poderia quebrar, a abóbada, assim como se fosse de caramelo-estrelado, celestre. Refinava o frio, sobretudo quando aquele vento, arraçado de Soão, nos espetava até à medula. Raio de vento frio ! Bom, mais se precisava de uma boa fogueira !

Depois, foram os rolos de pinheiros, ainda a pingar resinas…

Houve então que tomar providências para continuar… Coube esta iniciativa a um grupo de rapazes, mais ou menos nas idades, entre os 18 e os 20 anos, em que antes se saía “nas sortes”. Já noite-noite foram-se matas adentro. Audazes. De tractor, luzes acesas e com moto-serra de dentes bem arreganhados. “Cirurgicamente” mandaram alguns pinheiros abaixo, aqui e acoli. Logo lá foram desramados e cortados em rolos. A pingar resina, a pedir fogueira… Valente carrada de tractor se junta e logo a seguir arriba ao Largo da Capela. E bota para cima das brasas e tições daquilo que resta do Cepo inicial. Há que regar com gasóleo para abrir pasto às chamas novas. Estas saltam e alastram finalmente convictas. Os rapazes estão radiantes. Afinal, aquele seu acto de manter a tradição, e daquela forma perpetrado, também representa a sua, deles, dos rapazes, afirmação pessoal, a sua chegada à emancipação perante os mais velhos, e um desafio social também. É a vida e a comunidade a renovarem-se em plena tradição !

Mas, eis que, de repente, “desaparece” o Cepo de Natal…

Porém, no dia seguinte dá-se o inusitado… Resolveu zangar-se muito, o alegado proprietário de alguns dos pinheiros que tinham sido cortados na véspera, e erigidos à muito digna categoria de Cepo de Natal. Vai daí, fretou outro tractor e carregou para casa todos os rolos que se amontoavam no Largo da Capela, tivessem eles vindo fosse lá de onde fosse… Levou mesmo aqueles rolos que até já estavam chamuscados pela fogueira !... E fez tudo isso sem que o Povo desse conta e pudesse impedi-lo.

Mas, pouco a pouco, a notícia correu:- “ fulano de tal carregou os rolos todos do Cepo para casa !...”

E logo ia acelerando a discussão. Com severas críticas da maioria para com o proprietário eventual dos rolos e que, em retaliação, fizera “abortar” o Cepo de Natal . Aliás, tal acto só pode estar muito próximo de feio e grave pecado… Com críticas de alguns para com os jovens, nocturnos “ceifeiros” de pinhal, os quais terão abusado no corte, “a eito”, das árvores pertença do senhor “fulano de tal”…

Acalorados debates se acendiam e reacendiam entre os “pró” jovens e contra o proprietário retaliador e aqueles, outros, que tinham opinião contrária... Lá, no Largo da Capela, eram debates “a quente” embora motivados pelo “frio” que vinha da ausência do Cepo. Mas também não deve ter havido uma só casa de Vila Franca da Beira em que não se discutisse o caso, e nem sempre em tom moderado… Aliás, o assunto verteu mesmo para as povoações vizinhas !
Pode-se concluir que a larga maioria das críticas se centrou em condenar a atitude do senhor “fulano de tal” apesar de , enfim, também se considerar que algum “abuso” houve por parte dos jovens…

Entretanto, refaz-se o CEPO e de que maneira…

Era necessário repor o Cepo ! Perante “a crise”, instalada há já dois ou três dias, havia que tomar novas providências. Que se discutisse, não havia grande problema nisso, mas que também se agisse, e depressa ! Em teoria, várias hipóteses de acção. Na emergência, nem tantas assim…
Eis que, então, alguém se lembra de ir buscar rolos de pinho, comprados à Fábrica de Serração, para os lados do Campo de Futebol. Daqueles rolos já secos mas bem resinosos. Venha daí o tractor com o hidráulico para os carregar… Antes teria de ser “ à unha”, à força de braço… Depressa se fazem subir oito toneladas de rolos para o atrelado. Sim, oito toneladas de uma só carrada de tractor !

Arrogante, a máquina “invade” o Largo da Capela e aguça a curiosidade de quem por ali se encontra. Descarregam-se os rolos todos. Grande monte fazem ! Uma dúzia deles vai directamente para reacender o Cepo. É dia 31 de Dezembro, pela meia-tarde. Depressa cai a noite do fim-de-ano.

Espectacular, o novo Cepo é já Cepo de Fim-de-Ano !

Crepita e arde tão forte que quase derrete os cabos da energia eléctrica pública. Pela noite fora, é vistoso. Projecta-se e ilumina mais alto que a Torre da Capela e mais natural que os projectores amarelentos colocados no Largo. O Cepo atira para cima uma enorme e agitada crista de fumo e faúlhas ágeis… O clarão vê-se de longe, por exemplo, quando a gente vem pela Estrada Nova, do Ervedal ou de Aldeia Formosa. E marca com tons avermelhados os rostos e os vultos de quem o rodeia.

Mas, o frio continua a rachar e o vento a cortar…
As mãos saem regularmente dos bolsos e esfregam-se uma na outra, mais depressa ou mais devagar…distendem-se os braços em direcção ao fogo… não se pode estar muito perto que a fogueira é brava… mas, tão ásperos são frio e vento que, de cinco em cinco minutos, é preciso rodar o corpo meia-volta, para aquecer alternadamente a frontaria e as traseiras… e volta a rodar…e a esfregar as mãos e a abri-las outra vez de frente para o fogo… agora do Cepo de fim-de-ano.

O martelo, prolongamento do “velho” relógio da Torre da Capela, bate a meia-noite na aba do “velho” sino grande. Assim, corrido “à badalada”, sai o “Ano Velho” – 2004 - e entra, em tom festivo, o “Ano Novo” – 2005.

E um animado grupo convive alegremente à volta do Cepo. Estoiram e borbulham duas garrafas de espumante. Começa a degustar-se o borrego acabadinho de ser assado em brasas retiradas do Cepo. Dois garrafões de vinho andam de mão em mão ( e de boca em boca…). Come-se, bebe-se, fala-se, ri-se, faz-se algazarra…

O sino da Torre bate já as três da manhã do primeiro de Janeiro de 2005. Sopra o vento frio. Crepita o Cepo. Uma dúzia de barulhentos mantém-se ali, e resiste . É de crer que, com a farra, não sentem o frio e o vento da noite…

Amanhã, é dia de pedir as Janeirinhas “ou de carne ou de chouriça”. Há quem se deite já a pensar nisso ! …

Noite seguinte, de um para dois de Janeiro. Outro grupo se forma e se anima, à roda do Cepo que quase consumiu as oito toneladas de rolos ! Aparecem as chouriças… caseiras, suculentas, bem temperadas o que, por aqui, também significa terem sal e picante a notarem-se bem… Toca a assá-las em brasas saídas do Cepo. Há um grelhador ao lado. Oportuno apetrecho. Comem-se as “fêbras”, a saborear, que afinal até chegam bem para todos. Mais uma farra. Por aqui é o que se quer! Uma festança justifica-se a si própria. Quanto mais em alturas destas, no meio da tradição e dos amigos !...

E o Cepo continuou pelos Reis…
Houve quem prometesse… O Cepo ia arder pelos Reis também ! E a cinco de Janeiro, véspera de Dia de Reis, da Fábrica de Serração vieram mais quatro toneladas de rolos. Comprados. Animou-se o Cepo, agora já Cepo de Reis. Afinal como manda a tradição !

Nessa noite, lá se juntou outro grupo de convivas. Com vários “repetentes” de noites anteriores e com alguns de primeira vez. Fêveras, melhor dito, febras, de porco, foi a base da comezaina. Claro que sempre com o Dão “da casa” e, confesse-se, algumas cervejas a acompanhar.

Continuam frio e vento. Seco e frio, frio e seco, assim vai este Inverno !... Não é bom para a agricultura, para o queijo da serra. Ah ! Na farra e na comezaina, também sempre aparecem um ou dois queijos da serra. Dos bons !

Continuam alguns debates. Há quem diga, alto e a bom som, que a tradição mais genuína manda que o Cepo seja feito com cepos e rolos mas “dados ou roubados”, nunca comprados… É um ponto de vista a ter em conta. Pessoalmente alinho por nele… …

E Dia de Reis, que agora já não é “Dia Santo de Guarda”, pela tarde, lá se juntou o Povo, no Largo da Capela enquanto o Cepo se auto-consumia na sua própria fogueira. A imolar-se em louvor à Paz. Apesar das polémicas motivadas pelo “desaparecimento” do Cepo de Natal… A aquecer o coração dos Homens e Mulheres de boa-vontade. Afinal, de todos aqueles e de todas aquelas que gostam de partilhar certos prazeres desta vida.

Com os Amigos à volta. Envolvidos pela Tradição. A provar que há muita coisa “de ontem” que se projecta no futuro. Para que seja possível um futuro melhor, apesar de tudo !

Jano

Bom Ano de 2005, a todos os Vilafranquenses e Amigos, em todas as latitudes do Mundo. (A.Guímaro)

Sem comentários: