16 de novembro de 2016

Falecimento de Filipe Frade


Jano, escreveu:
 
Até sempre, Filipe !
 
Sim, até sempre !
 
Há momentos, há episódios destas nossas vidas, que nos marcam para sempre. Os momentos em que a morte já precedeu a definitiva ausência são dos maiores e dos piores entre os piores. É a nossa forma de sentir, é a nossa cultura, somos nós a enfrentarmo-nos nos nossos labirintos, empurrados pela mão da poderosa e infalível “ceifeira”. E, assim, a morte mais nos dói em vida !
 
Filipe, meu “primo em terceiro grau” – meu Amigo em primeiríssimo grau !
 
Invoco os laços familiares também porque tu os prezavas. E é muito bom sinal nós prezarmos os familiares. E, para além disso, nós aprendemos, facilmente aliás, a curtir a mútua companhia à medida que as circunstâncias da vida nos foram juntando.
 
Sim, já antes nos conhecíamos, obviamente. Eu já tinha ouvido falar muito de ti. Tu és mais velho uns anitos. Eu soube de tuas grandes aventuras em tua juventude. Então, era um quase mistério de que se falava baixinho. Teu filho varão – que ainda mais cedo partiu – é o maior testemunho dessa tua vida. Tenho em minha memória, tão nítida como uma fotografia, a foto de tua companheira segurando ao colo vosso filhinho, à tua espera, quando tu saltavas para fora dos cárceres dos fascistas – lembras-te ? - um ou dois dias após o 25 de Abril de 1974.
 
E como foi gira e invulgar aquela tua festa – vários 25 de Abris após – festa partilhada com tua companheira maior no dia de vosso casamento – pela Igreja! Tu e ela, ambos de branco vestidos, na carroça puxada por uma burrinha que, não sendo de Belém (na velha Israel), o era de Vila Franca da Beira. Sim, quem vos viu não (vos) esquece.
 
Em boa hora o fizeram que outros e ainda mais sublimes acontecimentos projectaram e se consumaram na vossa mais do que ímpar descendência – três belíssimas jovens que, hoje, te choram porque partiste e tua ausência lhes queima por dentro.
 
Hoje e sempre, para as quatro mulheres de tua vida, Filipe, aquele abraço que sendo dolorido também é de um amigo que hoje sofre mas que não chora.
 
E não chora porque tu próprio me disseste para assim fazer quando soasse esta hora que tu sabias que ia chegar mais cedo que tarde. Perante a inexorável perspectiva, a tua serena coragem, divertida até que ela chegava a parecer, mais essa tua forma de ser e de transparecer são, para mim, a última e mais impressiva referência que de ti, vivamente, vou guardar.

 Ah! Vou também propor a tua condecoração, a título póstumo, como fundador emérito da “Real-República, Livre, Soberana e Independente de Vila Franca da Beira” – tás a ver ? – dentro do espírito daquele imorredoiro projecto que nós – sob teu comando, Meu Coronel, que também é “conFrade” – que nós íamos implantar, com nossos Correligionários e Amigos, para glória maior desta nossa Vila Franca da Beira e suas ínclitas Gentes !

Ah ! Bolas! Isto custa !

Olha, não choro por fora mas deixa-me chorar por dentro, um pouquito que seja… Sabes, preciso disso, nesta hora.

Meu grande Amigo.

Até sempre, Filipe !
 
João Dinis, Jano